Octavio Brandão 1977

sexta-feira, 25 de junho de 2021

CONTRA A CHACINA - JUNTO COM OS TRABALHADORES E O POVO POBRE DO JACAREZINHO CONTRA TODO TIPO DE OPRESSÃO E EXPLORAÇÃO

Nota do Centro Cultural Octavio Brandão (CCOB)

Junho/2021

A população oprimida, os trabalhadores explorados e a juventude sem oportunidades do Jacarezinho, em sua maioria negros e pardos, ainda vive o pesadelo de ter visto um banho de sangue na comunidade, com corpos dilacerados pelas ruas e vielas onde brincam seus filhos, onde proseiam os adultos e onde descansam os mais idosos sentado nas portas de suas casas.



Essa ação foi orquestrada pelo governador empossado Claudio Castro e pelo Presidente Jair Bolsonaro que se reuniram no dia anterior para dar o “ok” para a chacina. Visam não só enfraquecer um território não controlado pelas milícias, mas principalmente levar medo e terror a população pobre onde, fruto do desemprego e da atuação desastrada dos governos municipal, estadual e federal na pandemia, aumenta a cada dia a miséria e, junto com ela, a revolta contra esses governos, a exploração e a opressão.

Tentaram justificar a chacina com o argumento de combate ao tráfico de drogas e de que só morreu bandido. Na verdade, a operação policial de 06 de maio último obedeceu a uma lógica de extermínio e não tem a mínima preocupação com a vida dos moradores do local. Todos são considerados suspeitos ou criminosos. São verdadeiras operações de guerra, com armamento pesado, em áreas densamente povoadas.

O Jacarezinho já abrigou parte considerável da mão de obra do grande complexo industrial que havia no bairro vizinho do Jacaré e uma parte dos operários da gigante GE. É uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, com tradição de lutas operárias e por melhores condições de moradia, mas com a desindustrialização de nosso estado muitas fábricas fecharam e o Jacarezinho viu crescer a miséria, o desemprego e a fome entre seus moradores. Esse cenário criou as condições para que parcela da juventude negra, parda, pobre e sem perspectivas e emprego, visse no tráfico, infelizmente e tragicamente, uma alternativa para melhorar sua vida de abandono e carências. Tráfico esse que serviu como pretexto para a sanguinária operação policial de 06 de maio.

A criminalização da pobreza justifica a existência de um aparato policial que cresce cada vez mais, e é usado para reprimir os trabalhadores e o povo explorado e oprimido das periferias e favelas, se estes decidirem ir pras ruas, fazer greve, reivindicar melhores salários e lutar por melhores condições de vida, moradia, saneamento básico saúde, alimentação etc. As operações policiais não visam proteger esses moradores, pelo contrário, aterrorizam a comunidade com invasão de casas e abordagens violentas que muitas vezes resultam em assassinatos.

Setores dessa mesma polícia, que são cada vez maiores, também quiseram uma fatia maior do bolo e criaram o seu próprio negócio corrupto e ilegal: as milícias. Quanto mais comunidades as milícias controlarem, mais rendosos serão os seus empreendimentos e mais representantes e aliados terão no Estado brasileiro. Estudos recentes demonstraram a preferência do aparelho policial em fazer operações que acabam por favorecer a expansão das milícias. Essas milícias têm relacionamento íntimo com políticos e governantes, como por exemplo a família Bolsonaro, que nomeia cargos nos seus gabinetes e faz homenagens a líderes milicianos

Diante da falta de fundamentação jurídica, social e militar para a ação policial que caracterizou uma verdadeira chacina, o Centro Cultural Octavio Brandão (CCOB)¹ vem se somar às vozes que se colocam ao lado da luta e da organização independente dos trabalhadores explorados, da população oprimida e da juventude sem horizontes do Jacarezinho para:

1. exigir a apuração da chacina, sem segredo de justiça, com a presença do movimento comunitário e das entidades de direitos humanos da sociedade civil para não se repetir o arquivamento e a impunidade dos envolvidos, como na chacina do Falet, em fev/2019.

2. Contra a barbárie para onde o capitalismo e o Estado brasileiro estão nos empurrando, exigir a presença dos serviços públicos dentro da comunidade, com creche e escola para todas as crianças e adolescentes com a garantia de atividades sociais e culturais; saneamento básico, calçamento, iluminação e revitalização dos hospitais públicos da região.

3. um plano piloto de obras públicas na área formulado com os moradores (estendido depois para as outras comunidades) que gere emprego e renda para os moradores.

(1) - O CCOB funciona ao lado do Jacarezinho e já organizou diversas rodas de samba com o saudoso Barbeirinho, sambista gravado por Zeca Pagodinho e Bezerra da Silva e que foi presidente da Unidos do Jacarezinho. O CCOB, durante a pandemia fez cinco atividades de entrega de cestas alimentícias, máscaras contra o contágio e panfletos políticos denunciando o governo Bolsonaro e a desigualdade produzida pelo capitalismo como os responsáveis pelas milhares de mortes que se abatem principalmente sobre a população mais pobre, moradora das favelas e das periferias.