Nota do Centro Cultural Octavio Brandão (CCOB)
Junho/2021
A população
oprimida, os trabalhadores explorados e a juventude sem oportunidades do
Jacarezinho, em sua maioria negros e pardos, ainda vive o pesadelo de ter visto
um banho de sangue na comunidade, com corpos dilacerados pelas ruas e vielas
onde brincam seus filhos, onde proseiam os adultos e onde descansam os mais
idosos sentado nas portas de suas casas.
Essa ação foi
orquestrada pelo governador empossado Claudio Castro e pelo Presidente Jair
Bolsonaro que se reuniram no dia anterior para dar o “ok” para a chacina. Visam
não só enfraquecer um território não controlado pelas milícias, mas
principalmente levar medo e terror a população pobre onde, fruto do desemprego
e da atuação desastrada dos governos municipal, estadual e federal na pandemia,
aumenta a cada dia a miséria e, junto com ela, a revolta contra esses governos,
a exploração e a opressão.
Tentaram
justificar a chacina com o argumento de combate ao tráfico de drogas e de que
só morreu bandido. Na verdade, a operação policial de 06 de maio último
obedeceu a uma lógica de extermínio e não tem a mínima preocupação com a vida dos
moradores do local. Todos são considerados suspeitos ou criminosos. São
verdadeiras operações de guerra, com armamento pesado, em áreas densamente
povoadas.
O Jacarezinho
já abrigou parte considerável da mão de obra do grande complexo industrial que
havia no bairro vizinho do Jacaré e uma parte dos operários da gigante GE. É
uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, com tradição de lutas operárias e
por melhores condições de moradia, mas com a desindustrialização de nosso
estado muitas fábricas fecharam e o Jacarezinho viu crescer a miséria, o
desemprego e a fome entre seus moradores. Esse cenário criou as condições para
que parcela da juventude negra, parda, pobre e sem perspectivas e emprego,
visse no tráfico, infelizmente e tragicamente, uma alternativa para melhorar
sua vida de abandono e carências. Tráfico esse que serviu como pretexto para a
sanguinária operação policial de 06 de maio.
A
criminalização da pobreza justifica a existência de um aparato policial que
cresce cada vez mais, e é usado para reprimir os trabalhadores e o povo
explorado e oprimido das periferias e favelas, se estes decidirem ir pras ruas,
fazer greve, reivindicar melhores salários e lutar por melhores condições de vida,
moradia, saneamento básico saúde, alimentação etc. As operações policiais não
visam proteger esses moradores, pelo contrário, aterrorizam a comunidade com
invasão de casas e abordagens violentas que muitas vezes resultam em
assassinatos.
Setores dessa
mesma polícia, que são cada vez maiores, também quiseram uma fatia maior do
bolo e criaram o seu próprio negócio corrupto e ilegal: as milícias. Quanto
mais comunidades as milícias controlarem, mais rendosos serão os seus
empreendimentos e mais representantes e aliados terão no Estado brasileiro.
Estudos recentes demonstraram a preferência do aparelho policial em fazer
operações que acabam por favorecer a expansão das milícias. Essas milícias têm
relacionamento íntimo com políticos e governantes, como por exemplo a família
Bolsonaro, que nomeia cargos nos seus gabinetes e faz homenagens a líderes
milicianos
Diante da
falta de fundamentação jurídica, social e militar para a ação policial que caracterizou
uma verdadeira chacina, o Centro Cultural Octavio Brandão (CCOB)¹ vem se somar
às vozes que se colocam ao lado da luta e da organização independente dos
trabalhadores explorados, da população oprimida e da juventude sem horizontes
do Jacarezinho para:
1. exigir a
apuração da chacina, sem segredo de justiça, com a presença do movimento
comunitário e das entidades de direitos humanos da sociedade civil para não se repetir
o arquivamento e a impunidade dos envolvidos, como na chacina do Falet, em
fev/2019.
2. Contra a
barbárie para onde o capitalismo e o Estado brasileiro estão nos empurrando,
exigir a presença dos serviços públicos dentro da comunidade, com creche e
escola para todas as crianças e adolescentes com a garantia de atividades
sociais e culturais; saneamento básico, calçamento, iluminação e revitalização dos
hospitais públicos da região.
3. um plano
piloto de obras públicas na área formulado com os moradores (estendido depois
para as outras comunidades) que gere emprego e renda para os moradores.
(1) - O
CCOB funciona ao lado do Jacarezinho e já organizou diversas rodas de samba com
o saudoso Barbeirinho, sambista gravado por Zeca Pagodinho e Bezerra da Silva e
que foi presidente da Unidos do Jacarezinho. O CCOB, durante a pandemia fez
cinco atividades de entrega de cestas alimentícias, máscaras contra o contágio
e panfletos políticos denunciando o governo Bolsonaro e a desigualdade
produzida pelo capitalismo como os responsáveis pelas milhares de mortes que se
abatem principalmente sobre a população mais pobre, moradora das favelas e das
periferias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário