Octavio Brandão 1977

sábado, 12 de setembro de 2020

Octávio Brandão: pioneiro marxista no Brasil*

Renata Albuquerque • 21/03/2019

Octávio Brandão é um nome muito conhecido dos pesquisadores brasileiros que se debruçam sobre a política do início do século XX. Comunista de primeira hora, o intelectual alagoano foi ativista e militante, sendo pioneiro na difusão do marxismo no Brasil. Ele escreveu obras importantes – mas pouco lidas – como Agrarismo e Industrialismo, Canais e Lagoas, Veda do Mundo Novo e Rússia Proletária. Em Octávio Brandão e as Matrizes Intelectuais do Marxismo no Brasil, Felipe Castilho de Lacerda vai além da biografia do alagoano e traz ao público um estudo sobre a obra desse intelectual. A seguir, Lacerda fala sobre seu novo livro ao Blog da Ateliê:

Felipe Castilho de Lacerda

Qual a importância de Octávio Brandão para a história política do Brasil?

Felipe Castilho de Lacerda: Octávio Brandão tem uma grande importância, em primeiro lugar, por ter feito parte do primeiro grupo dirigente do Partido Comunista do Brasil, fundado em 25 de março de 1922 – mesmo que esse primeiro grupo dirigente considerasse, por vezes, a data fundacional do partido o dia 7 de novembro de 1921, quando se fundou o Grupo Comunista do Rio de Janeiro, que alimentou a ideia de fundar o Partido Comunista alguns meses mais tarde. Esse fato é essencial, porque o Partido Comunista foi a agremiação mais longeva da história do país, tendo papel fundamental na cultura, na política e na formação intelectual do Brasil. Octávio Brandão também exerceu um papel de destaque por ter redigido e publicado aquela que é considerada a primeira interpretação marxista da realidade brasileira, o livro Agrarismo e Industrialismo – ainda que eu reforce em meu trabalho que o mesmo autor já esboçara uma tentativa de interpretação dessa mesma realidade em um livro anterior, publicado em 1924, intitulado Rússia Proletária. De toda forma, essa questão também é capital, e isso por dois motivos. Em primeiro lugar, porque o ideólogo do PCB tornou-se o iniciador brasileiro de uma grande cultura de pensamento, que foi o marxismo, ou melhor, os diversos marxismos que fincaram raiz na tradição intelectual brasileira. Em segundo lugar porque, a partir dos contatos de Octávio Brandão e de seus correligionários de partido – principalmente figuras como Astrojildo Pereira, Paulo e Fernando de Lacerda, Rodolfo Coutinho, Antonio Bernardo Canellas, Everardo Dias, entre outros –, com a direção da Internacional Comunista, ele se colocou a tarefa de produzir uma interpretação da realidade brasileira que guiasse os passos de sua agremiação rumo à transformação social. Isso é fundamental para a história das esquerdas ao longo de todo o século XX. A importância que aquelas e aqueles militantes davam para uma relação íntima entre teoria e prática foi fundacional para a história das esquerdas, e talvez mesmo para toda a história das relações entre intelectualidade e política no século que acabamos de deixar para trás. É preciso lembrar que toda a reflexão política no Brasil dos anos 1910-1920 era baixíssima; mesmo as classes dominantes, com toda a estrutura que sempre têm à sua disposição, não fora, antes do PCB, capaz de elaborar um programa que alimentasse suas organizações; por isso mesmo os partidos na Primeira República eram todos fisiológicos e regionais, organizavam apenas grupos de interesses imediatos e não tinham produção ideológica propriamente dita. O PCB de Astrojildo Pereira e Octávio Brandão fundou uma nova cultura política no país, a qual se tornaria espécie de espelho para todas as outras agremiações, independente de sua tendência ideológica.

Por que se interessou em estudar a biografia e o trabalho intelectual de Octávio Brandão?

FCL: Dois motivos que me dirigiram à trajetória de Octávio Brandão foram os principais: em primeiro lugar, eu estava ainda na graduação em História na USP e comecei a estudar o tenentismo. Em dado momento, cujo ano não me recordo mais, assisti a uma palestra do intelectual Milton Pinheiro, que citava um certo livro, escrito por um comunista alguns meses após a Revolução Paulista de 1924, que buscava interpretá-la por meio de uma tentativa de apropriação do marxismo. Tratava-se justamente da obra de Octávio Brandão, Agrarismo e Industrialismo, publicada, por fim em 1926. Pensei, é óbvio, “preciso ler esse livro!” Mais tarde, comecei a estudar História do Livro com a grande especialista nessa área, Marisa Midori Deaecto, que se tornou a minha grande mestra em todos os aspectos da carreira e da vida. A simultaneidade dos dois acontecimentos me fez pensar: “Ora, Agrarismo e Industrialismo é um livro, não é?!” E decidi, assim, entrar na história política das e dos comunistas brasileiras (os) pelos métodos indicados pela História do Livro, da Edição e da Leitura.

   A partir daí, comecei a ler e ler… e me encantei com a trajetória daquele filho de Viçosa das Alagoas, que buscara escrever uma espécie de Os Sertões, de Euclides da Cunha, voltado para o espaço geográfico e social de sua terra, de onde nasceu o livro Canais e Lagoas, lançado no Rio de Janeiro em 1919. Fugido da perseguição política, Octávio Brandão desembarcou no capital federal à época, o Rio, ligou-se ao movimento anarquista, casou-se com um poeta de relativo sucesso, Laura da Fonseca e Silva, que muito jovem, participara de salões literários como o de Olavo Bilac, e publicou diversos folhetos de agitação política anarquista. O anarquismo daqueles anos é algo absolutamente instigante. Mais tarde, Octávio Brandão ligou-se ao grupo de anarquistas que aderiram à ideologia e à organização da Internacional Comunista, dedicou-se à difusão daqueles novos ideias, por meio do que chamavam agitação e propaganda, ou “agitprop” e essa foi certamente uma enorme contribuição de Octávio Brandão. O meu estudo se restringe aos anos 1920, mas em 1931, Octávio Brandão e sua esposa Laura são banidos do Brasil, junto às três filhas, passam pela Alemanha e vão viver na União Soviética, como funcionários da Internacional Comunista. Laura falece em 1942, de câncer, em meio ao esforço de guerra soviética e Octávio Brandão volta mais tarde ao Brasil. Mas o que mais me interessou mesmo foram aquelas produções ideológicas de Octávio Brandão nos anos 1920. Para as estudiosas e estudiosos do comunismo, Octávio Brandão é figura conhecida, mas a imensa maioria não leu de fato seus livros, menos ainda outras obras além de Agrarismo e Industrialismo, quando li obras como Canais e Lagoas, Veda do Mundo Novo ou Rússia Proletária, pensei: “Aqui existe muita coisa que explica o processos intelectual daquele autor que é conhecido por um livro, de escrita bastante simplista, que é Agrarismo e Industrialismo”. Por isso, imaginei que fazer esse estudo voltado para aqueles livros e a trajetória de seu autor “em perspectiva” poderia dar alguma contribuição, mesmo que modesta, para a historiografia política brasileira.



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Octavio Brandão*

 Dionysa Brandão


Octavio Brandão um ser marcado pela dor: dor na infância sem mãe, aos 4 anos, sem pai aos 11 anos. Dor da revolta, dor da rebeldia contra a fome e a miséria do seu povo. E onde há dor ficam as marcas profundas, e para sempre...

  

Dionysa discursa na homenagem a seu pai.

   

Morreu aos 15 de março de 1980, com 83 anos, na Santa Casa de Misericórdia. Consta no atestado de óbito causa mortis – AVC (acidente vascular cerebral). Ironicamente, materialista até os últimos momentos de vida, cercado de imagens de Santos e irmãs de caridade – todas muito atenciosas!...O caixão preto, o mais barato escolhido pela sua filha e as despesas funerais – ajuda de um amigo vizinho; solidariedade da segunda esposa – Lúcia e de seu filho Roberto. Foi o fim.

   Ele viveu e morreu deixando a imagem de uma personalidade de que “é preferível quebrar que torcer”, um homem “genuinamente sentimental...um homem bom e idealista.”

   (...) Em 1918 pronuncia “...uma conferência para o operariado: Pela libertação dos humildes.” E a União de Ofícios Vários, uma associação operária, representada por uma comissão vai a imprensa agradecer o pronunciamento do conferencista.

     Como geólogo e naturalista descobre 14 locais com vestígios de petróleo e aos 20 anos acaba de escrever e publicar o livro “Canais e Lagoas”. E foi, então, percorrendo quilômetros e mais quilômetros passou a sentir e ver melhor a realidade, a miséria do seu povo. Intensifica mais a sua participação nos movimentos dos operários e trabalhadores. Colabora com a imprensa local e anarquista. É preso e ameaçado de morte. Não vê outra saída. Partir...Deixar para trás sua querida Alagoas!!!

   No Rio de Janeiro trabalha como farmacêutico. Faz conferências nos sindicatos, atua nos comícios às portas das fábricas e nos bairros operários e populares. Continua escrevendo em verso e prosa na imprensa libertária carioca.

   Em abril de 1921 casa-se com a poeta Laura da Fonseca e Silva, que compartilha com ele as lutas políticas. Estuda teoria marxista-leninista. E assina a papeleta de adesão ao Partido Comunista em 15 de outubro de 1922. Ajuda na criação do semanário “A Classe Operária” – primeiro órgão oficial do Partido. Disciplinarmente cumpre tarefas partidárias.

   O Bloco Operário e Camponês é criado em 1927 sob a direção do Partido Comunista. Entre alguns objetivos visava a participação nos pleitos eleitorais.

   Em 1928, Minervino de Oliveira e Octavio Brandão são eleitos para o Conselho Municipal do Distrito Federal. Posteriormente o BOC é dissolvido pelo PCB, que o considera agente de conciliação com as oligarquias. Brandão discorda.

   E, ainda em 1930, criticado e acusado de pequeno burguês, oportunista de direita, é ameaçado de expulsão do PCB como traidor. Apesar de manter suas opiniões, obedece à orientação partidária e da Internacional Comunista, fazendo autocrítica. Juntamente com vários outros antigos membros, Brandão é destituído da Comissão Central Executiva do PCB e passa a exercer tarefas e trabolho de importância menor dentro do partido.

   Em 1931 preso mais uma vez é deportado com a esposa e três filhas: Sattva, de 9 anos, Vólia de 8 anos e Dionysa de 6 – incompletos, para a Alemanha. A quarta filha Valná nasceu na União Soviética. Na Alemanha intimado pela polícia, refugia-se com a família na URSS, na qualidade de exilado político.

Octavio com suas filhas em Moscou.

É afastado da Internacional Comunista e do PCB.

“...um dos piores pesares é compreender que o caos e a derrocada se aproximam e sentir-se só como em 1935 em Moscou, em 1956, 1957 e em 1964, no Rio de Janeiro. Mas fiquei firme, inabalável, decidi resistir, não me deixei levar pelo ambiente de ilusões e idealizações. Guardei a própria personalidade...”.

* A íntegra desse artigo foi publicado em As Forças Encadeadas II, 1996; edição da autora; Dionysa Brandão.


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Semana Octavio Brandão

Octavio Brandão, 124 anos.

Em comemoração ao aniversário do nosso patrono (12/09/1896), o blog do  CCOB dedica esta semana a publicação de artigos e informações sobre Octavio Brandão.


Octávio Brandão e seus canais e lagoas*

Laura Brandão e Octávio Brandão no casamento em 1921
Octávio Brandão

Octávio Brandão

Octávio Brandão Rego nasceu em Viçosa, Alagoas no dia 12 de setembro de 1896. Era filho de Maria Loureiro Brandão Rego e de Manoel Correia de Melo, um farmacêutico prático e ativista da causa republicana.

Perdeu a mãe quando tinha quatro anos e passou a ser tutorado pelo tio Alfredo Brandão, um médico-militar, poeta e escritor, a quem Octávio ajudou nas pesquisas sobre o Quilombo dos Palmares. Seu primeiro contato com o anarquismo se deu no Cinema Aliança, onde trabalhava e passou a conhecer as ideias dos imigrantes italianos.

Quem influenciou Octávio Brandão foi o jovem tipógrafo Antônio Bernardo Canellas, que numa pequena gráfica de Viçosa produzia as propagandas dos filmes e o jornal Tribuna do Povo. Canellas, que era anarquista, foi quem ofereceu os primeiros livros sobre o socialismo para Brandão.

Antônio Bernardo Canellas

O jovem Octávio Brandão

O primeiro registro sobre a presença de Antônio Canellas em Alagoas surgiu no jornal Diário do Povo de 23 de setembro de 1916. Ele era um dos “cavalheiros” presente em uma festa da Sociedade Instrutora Viçosence. No início de 1917, já estendia sua atuação para Maceió como demonstra uma nota que anunciava a formação do Grupo de Propaganda Socialista, secretariado por ele e com sede na Av. Santos Pacheco, nº 85, entretanto, orientava-se que as correspondências fossem enviadas para “Antonio Canellas, rua do Araça, nº 82, em Jaraguá”.

Em 26 de setembro de 1917, o Diário do Povo voltou a citá-lo como tendo participado de um evento da Sociedade Instrutora Viçosence em que se comemorava o centenário de Viçosa. “O jornalista Antonio Canellas inspirado nas humanitárias ideias do nivelamento social ofereceu à assistência uma agradável, sugestiva palestra em que, ora colorida por um fino humorismo, ora denunciadora de uma alma revoltada contra a injustiça universal, o jovem anarquista salientou a ação da Instrutora”, registrou o jornal.

O nome de Antônio Canellas é citado no jornal O Imparcial de 1º de abril de 1919 em uma análise sobre o surgimento da imprensa anarquista em Pernambuco e Alagoas. Assegura o periódico que essa corrente de pensamento era “representada só e exclusivamente por um nome: — Antonio Canellas”.

Esclarece ainda que Canellas era um tipografo nascido em Niterói [18 de abril de 1898] e que após trabalhar em alguns jornais no Rio, “partiu para Alagoas, depois de ter convivido com Astrogildo Pereira”. Quando chegou a Viçosa, em Alagoas, em 1916, tinha 18 anos de idade.

E continua: “Passou pela imprensa alagoana como um operário, fundando depois um periódico em que iniciou a propaganda do anarquismo. Quando do decreto do governo brasileiro aceitando o estado de guerra com a Alemanha, Antonio Canellas fez um jornal que escandalizou os pacatíssimos comedores de sururu. Era a condenação da guerra em termos violentíssimos contra os nossos dirigentes”.

Rara foto de Octávio Brandão com 19 anos no jornal A Pyrausta de 21 de março de 1917

O jornal carioca informa ainda que Canellas recebeu uma carta elogiosa de Oliveira Lima e que a sede do jornal Semana Social foi apedrejada pelos “patriotas maceioenses”, havendo ainda ameaças de morte ao redator.

Como já havia um processo anterior contra ele por crime de injúria, Canellas fugiu para Recife onde passou a trabalhar na revisão do Diário de Pernambuco e depois fundou o jornal anarquista Tribuna do Povo, que alcançou circulação também na Paraíba e Alagoas. Em setembro de 1918, o jornal Diário de Pernambuco divulgou uma nota de trabalhadores em armazéns e carregadores daquele estado protestando contra a Polícia que ameaçava expulsar Canellas do Tribuna do Povo.

Em 1919 já estava de volta ao Rio de Janeiro, de onde partiu para Amsterdam como delegado da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro. Na Europa, participou da Conferência Internacional Sindicalista. No mês de outubro deste mesmo ano, participou da comissão organizadora do Terceiro Congresso Operário Brasileiro.

Canellas, que faleceu em 1936, foi fundador do PCB e fez parte da primeira Comissão Central Executiva do Partido, eleita no I Congresso em 1922.

Foi esse jovem anarquista do Rio de Janeiro que possibilitou o contato de Octavio Brandão com as obras de Humboldt, Ratzel, Darwin, Euclides da Cunha, Castro Alves e outros, além de começar a estudar Ciências Naturais, Literatura e História.

Octavio Brandão em Maceió

Laura Brandão

Laura Brandão

Aos 16 anos, Brandão rompeu com o catolicismo, para o desespero de parentes e familiares, todos tradicionalmente católicos. Seus conceitos e atitudes libertárias se chocavam com os valores das classes dominantes alagoanas.

Em 1913, aos 17 anos, morando em Recife onde foi estudar Farmácia, escreveu dois trabalhos sobre a história pernambucana para o Diário de PernambucoAspectos pernambucanos nos fins do século XVI e O Forte do Buraco. Os textos foram publicados somente em 1914.

Nesta época, também fazia pesquisas no Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco e as enviava para o tio Alfredo Brandão, que escrevia o livro Viçosa das Alagoas. Graduou-se em Farmácia pela Universidade do Recife.

Quando aconteceu a Revolução Russa de 1917, Octávio Brandão estava morando em Maceió na Rua Santa Maria, onde fundou a Farmácia Pasteur, que logo passa a ser ponto de encontro dos intelectuais alagoanos.

Em pouco tempo, Brandão já estava produzindo o jornal Semana Social. O periódico foi fechado pela Polícia quando passou a não defender a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial.

A vítima maior da experiência jornalística de Brandão foi Canellas, seu amigo anarco-socialista de Viçosa, que o acompanhou até Maceió ajudá-lo na edição do jornal. O tipógrafo foi ameaçado e teve que sair de Alagoas.

Envolvendo-se com estudos mineralógicos ligados ao petróleo, encontrou 14 locais com indícios e anunciou, em 1917, a existência do óleo em Alagoas.

No Jornal do Commércio, de Maceió, em 1º de junho de 1918, Octávio publica uma matéria que tinha o título: Um evadido da realidade. Recebeu várias ameaças, inclusive de morte. Passou a escrever sob pseudônimo. Assinava como Salomão, Fogaréo e Salomão Bombarda, mas todo mundo sabia que era ele. Maceió era uma cidade pequena.

Octávio Brandão

Octávio Brandão

Em 12 de setembro de 1918, a capital alagoana acordou com o manifesto Apelo á Revolta colado nas paredes. Os autores do texto eram Os libertários. O cartaz explicava a manobra do governo contra os pequenos plantadores de cana de açúcar.

Nesse mesmo período iniciou as viagens pelos canais e lagoas, percorrendo 1.500 km para escrever o seu livro mais conhecido, Canais e Lagoas.

A primeira edição do livro foi impressa com recursos próprios e chegou a somente 500 exemplares. Foi lançada em outubro de 1919, quando o autor já morava no Rio de Janeiro.

Primeira prisão

Sua primeira prisão aconteceu no dia 13 de março de 1919. Mas ele já vinha sendo observado pela polícia há mais de um ano, por seus escritos em defesa da reforma agrária e por participar da fundação da Congregação Libertadora da Terra.

Ao noticiar a detenção de vários ativistas do movimento operário em Maceió, o jornal O Imparcial (RJ) de 1º de abril de 1919, revela que o “complot” estudava a organização dos “soviets do sururu”. O líder deste movimento era Pedro Codá ,que foi preso com seus companheiros.

“Notou a polícia que quase todos os operários guardavam cuidadosamente artigos assinados por Octavio Brandão”, informou o jornal, acrescentando uma serie de elogios entre eles que o rapaz de 21 anos tinha uma erudição que se destacava no meio em que vivia.

Identificando que pertencia a uma das famílias mais ricas de Alagoas, o periódico carioca noticiou ainda que sua prisão se deu durante uma visita na Cadeia Pública a “um anarquista conhecido pelo pseudônimo de Ariel”. Era o seu amigo Rosalvo Guedes.

“Depois, fui solto e deportado para o interior. Ao voltar a Maceió. compreendi que era preciso partir, de qualquer forma, sob pena de ser assassinado e o crime ficar impune. As autoridades já tinham preparado um pistoleiro para matar-me”, esclareceu no livro de memória “Cartas de Octavio Brandão” (Editora da UFSC, 2005).

Deixou Alagoas no dia 18 de maio de 1919 a bordo do vapor Itapura. O secretário do Interior, Manoel Moreira e Silva, havia advertido: “Não me responsabilizo pela vida do Octávio Brandão”.

Militância comunista no Rio de Janeiro

Octávio Brandão, em pé, o segundo da direita para a esquerda, funda o jornal A Classe Operária, do PCB, em 1925

Na Capital Federal, Octávio Brandão estabeleceu a sua Farmácia Belga na Rua São Francisco Xavier, 228, defronte ao Colégio Militar. Faz contato com José Oiticica, intelectual e militante anarquista, mas, aos poucos, se afastou do anarquismo.

Em 1920, ligou-se ao Grupo Clarté de Paris e através do Grupo Comunista Brasileiro Zumbi, teve contato com o marxismo-leninismo e conheceu Astrogildo Pereira, a quem ajudou a fundar o Partido Comunista do Brasil (PCB), partido a que se filiou somente no segundo semestre de 1922, tornando-se dirigente nacional.

Ainda em 1921, casou-se com a educadora, poetisa e militante comunista Laura da Fonseca Silva.

Nesse período, realizou a primeira tradução brasileira do Manifesto Comunista de Marx e Engels, a partir da edição francesa de Laura Lafargue, que foi publicada no jornal sindical Voz Cosmopolita, em 1923.

Em 1925 esteve à frente da criação de A Classe Operária, o primeiro jornal de massas do Partido Comunista, da qual foi o primeiro editor. Dois anos depois foi editor-chefe do diário A Nação.

Octávio Brandão participa de um comício no Rio de Janeiro

Ainda em 1925, após revolta tenentista ocorrida em São Paulo, entre os dias 5 e 28 de julho de 1924, publicou Agrarismo e Industrialismo, considerado a primeira tentativa de interpretação marxista da realidade brasileira. A edição era argentina, e Octávio Brandão se assinava com o pseudônimo de Fritz Mayer.

Em 1928 foi eleito para o Conselho Municipal (atual Câmara dos Vereadores) da cidade do Rio de Janeiro pelo Bloco Operário e Camponês, frente eleitoral criada pelo PCB, então clandestino.

Logo após a guinada esquerdista da III Internacional, as ideias originais de Brandão sobre a revolução brasileira foram condenadas e acusadas de direitistas e menchevistas. Teve que fazer uma humilhante autocrítica e foi destituído dos cargos da direção partidária.

Após dezenas de prisões no Brasil, foi deportado pelo governo Vargas. Partiu em 25 de junho de 1931 no navio Wiser para Bremen, na Alemanha. De lá, foi para a União Soviética, onde permaneceu exilado por 15 anos trabalhando na organização da Internacional Comunista.

Octávio Brandão com as filhas

Octávio Brandão com as filhas

No exílio, foi acompanhado pela esposa, Laura Brandão, e pelas três filhas do casal: Satva, Dionysa e Vólia. Nesse período o casal teve ainda mais uma filha, Valná.

Em novembro de 1943, a família de Octávio Brandão no Brasil recebeu  carta sua comunicando o falecimento de Laura. A morte aconteceu nos Urais, para onde parte da estrutura administrativa de Moscou tinha levada, fugindo do Exército Alemão em plena Segunda Grande Guerra.

Octávio Brandão voltou a casar ainda na Rússia. Sua nova companheira era uma brasileira funcionária da Rádio Moscou, Lúcia Prestes, irmã do líder comunista Luís Carlos Prestes, com quem teve as filhas Iracema e Glória.

Regressou do exílio em 1946 e no ano seguinte foi eleito vereador para a Câmara do Distrito Federal, RJ, logo em seguida foi cassado, iniciando longo período de clandestinidade.

Após a sua separação de Lúcia Prestes em 1953, Octavio Brandão ainda teve mais uma companheira: Marisa Júlia Coutinho. Era 34 anos mais nova que ele. Em 1965 houve a separação com a interferência dos pais de Marisa, segundo Valná Brandão.

Em 1955, Octávio Brandão foi preso pela 17ª vez. Apenas em 1958, durante a presidência de Juscelino Kubitschek, pôde voltar à vida legal.

Octávio Brandão (segundo da esquerda para a direita, de pé), ao lado de membros da Internacional Comunista em 1931

Aqueles, no entanto, foram dias dramáticos para os comunistas. Dois anos antes, Khrushchov havia denunciado os crimes de Stalin e aberto uma crise sem precedente no movimento comunista internacional.

Brandão foi atingido por essa crise e acabou, lentamente, se afastando da militância partidária. O descaso da direção do Partido pelos seus antigos militantes também contribuiu para sua atitude.

Obras

Figura essencial para a compreensão da história sociocultural de Alagoas, somente nos últimos anos seu nome vem sendo lembrado. Estudioso e pesquisador que foi, deixou um acervo monumental, utilizado até hoje como fonte para vários estudos acadêmicos desenvolvidos no Brasil.

Escrito nos idos de 1916-17, o livro Canais e Lagoas representa um dos poucos registros da natureza que circundava o complexo lagunar Mundaú-Manguaba, quando a intervenção humana ainda não havia provocado mudanças significativas nesse notável ecossistema.

João Cândido, o almirante negro e Octávio Brandão

João Cândido, o almirante negro e Octávio Brandão

O livro traça um roteiro preciso do quão exuberante era a mata atlântica e seus recursos hídricos à época.

Serve de precioso contraponto ao absurdo representado pelo processo de irresponsável ocupação do solo que caracteriza, principalmente, a zona costeira do Brasil e, particularmente, o litoral de Alagoas.

Octávio Brandão, na verdade, foi nosso primeiro ecologista. Era dono de um idealismo sem limites e de grande coragem cívica, ainda que sofresse a frustração de não encontrar entre grande parte dos intelectuais da época “calor e simpatia, apoio e estímulo, justiça e compreensão”.

O livro Agrarismo e Industrialismo foi pioneiro na reflexão dos comunistas sobre a sociedade brasileira.

Escreveu ainda: Mundos Fragmentários, Rússia Proletária, Intelectuais Progressistas, O Niilista Machado de Assis, Combates e Batalhas, Apontamentos de um Burguês, Desmoronamentos Divinos, As Forças Encadeadas, Apelo à Nacionalidade Brasileira e Vida do Novo Mundo.

Faleceu no dia 15 de março de 1980, no Rio de Janeiro, em Santa Teresa, na Estrada do Sumaré, onde viveu os seus últimos 16 anos.

Fontes principais:
Pesquisa de Luiz Nogueira para o fascículo Memória Cultural de Alagoas, editado pela Gazeta de Alagoas.
Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Oct%C3%A1vio_Brand%C3%A3o.

*Artigo publicado em: https://www.historiadealagoas.com.br/octavio-brandao.html

sábado, 6 de junho de 2020

Octávio Brandão: As Lutas do seu tempo

O documentário "Octávio Brandão: As lutas do seu tempo" foi produzido pelo Arquivo Edgar Leuenroth da Unicamp, depoimentos dados pelo veterano dirigente do PCB entre 1977 e 1978.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

CCOB CONVIDA


Comemoração:
Dezesseis anos do Centro Cultural Octavio Brandão e  dez anos do Jornal Cultural Transversus.
Fundação do CCOB em setembro de 2003.

    Música Latina c/o Grupo IMAGEM

Entrega da Medalha do CCOB “in memorian” ao bancário Luís Fernando Gonçalves e ao previdenciário e professor Luís Fernando Rodrigues de Carvalho

Dia 14/09 - sábado - 15 h – CCOB

Endereço: Rua Miguel Ângelo, 120 Próximo ao Metrô de Maria da Graça 
Colaboração para os músicos: R$ 10,00

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Assembleia Geral do CCOB


No próximo sábado, 24/08, às 10 hs, está convocada a Assembleia Geral do CCOB, com a seguinte ordem do dia:

1 - Informe de finanças.
2 - Plano de gestão.
3 - Eleição  da diretoria para 2019/2021.

O CCOB é uma construção coletiva, a sua continuidade depende da participação efetiva dos seus associados.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

CICLO DE PALESTRAS 2019

EUA X IRÃ
O que está por trás do conflito que ameaça deflagrar uma nova guerra mundial?

Petroleiro em chamas no Golfo Pérsico.


Palestra com o Prof. Ramez Maalouf.
 Historiador e doutor em Geografia Humana,
especialista em Oriente Médio.

Neste sábado, 10/8, às 16 hs. 
Rua Miguel Ângelo, 120, esquina com Domingos de Magalhães, próximo ao Metrô de Maria da Graça.