Octavio Brandão 1977

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Octavio Brandão*

 Dionysa Brandão


Octavio Brandão um ser marcado pela dor: dor na infância sem mãe, aos 4 anos, sem pai aos 11 anos. Dor da revolta, dor da rebeldia contra a fome e a miséria do seu povo. E onde há dor ficam as marcas profundas, e para sempre...

  

Dionysa discursa na homenagem a seu pai.

   

Morreu aos 15 de março de 1980, com 83 anos, na Santa Casa de Misericórdia. Consta no atestado de óbito causa mortis – AVC (acidente vascular cerebral). Ironicamente, materialista até os últimos momentos de vida, cercado de imagens de Santos e irmãs de caridade – todas muito atenciosas!...O caixão preto, o mais barato escolhido pela sua filha e as despesas funerais – ajuda de um amigo vizinho; solidariedade da segunda esposa – Lúcia e de seu filho Roberto. Foi o fim.

   Ele viveu e morreu deixando a imagem de uma personalidade de que “é preferível quebrar que torcer”, um homem “genuinamente sentimental...um homem bom e idealista.”

   (...) Em 1918 pronuncia “...uma conferência para o operariado: Pela libertação dos humildes.” E a União de Ofícios Vários, uma associação operária, representada por uma comissão vai a imprensa agradecer o pronunciamento do conferencista.

     Como geólogo e naturalista descobre 14 locais com vestígios de petróleo e aos 20 anos acaba de escrever e publicar o livro “Canais e Lagoas”. E foi, então, percorrendo quilômetros e mais quilômetros passou a sentir e ver melhor a realidade, a miséria do seu povo. Intensifica mais a sua participação nos movimentos dos operários e trabalhadores. Colabora com a imprensa local e anarquista. É preso e ameaçado de morte. Não vê outra saída. Partir...Deixar para trás sua querida Alagoas!!!

   No Rio de Janeiro trabalha como farmacêutico. Faz conferências nos sindicatos, atua nos comícios às portas das fábricas e nos bairros operários e populares. Continua escrevendo em verso e prosa na imprensa libertária carioca.

   Em abril de 1921 casa-se com a poeta Laura da Fonseca e Silva, que compartilha com ele as lutas políticas. Estuda teoria marxista-leninista. E assina a papeleta de adesão ao Partido Comunista em 15 de outubro de 1922. Ajuda na criação do semanário “A Classe Operária” – primeiro órgão oficial do Partido. Disciplinarmente cumpre tarefas partidárias.

   O Bloco Operário e Camponês é criado em 1927 sob a direção do Partido Comunista. Entre alguns objetivos visava a participação nos pleitos eleitorais.

   Em 1928, Minervino de Oliveira e Octavio Brandão são eleitos para o Conselho Municipal do Distrito Federal. Posteriormente o BOC é dissolvido pelo PCB, que o considera agente de conciliação com as oligarquias. Brandão discorda.

   E, ainda em 1930, criticado e acusado de pequeno burguês, oportunista de direita, é ameaçado de expulsão do PCB como traidor. Apesar de manter suas opiniões, obedece à orientação partidária e da Internacional Comunista, fazendo autocrítica. Juntamente com vários outros antigos membros, Brandão é destituído da Comissão Central Executiva do PCB e passa a exercer tarefas e trabolho de importância menor dentro do partido.

   Em 1931 preso mais uma vez é deportado com a esposa e três filhas: Sattva, de 9 anos, Vólia de 8 anos e Dionysa de 6 – incompletos, para a Alemanha. A quarta filha Valná nasceu na União Soviética. Na Alemanha intimado pela polícia, refugia-se com a família na URSS, na qualidade de exilado político.

Octavio com suas filhas em Moscou.

É afastado da Internacional Comunista e do PCB.

“...um dos piores pesares é compreender que o caos e a derrocada se aproximam e sentir-se só como em 1935 em Moscou, em 1956, 1957 e em 1964, no Rio de Janeiro. Mas fiquei firme, inabalável, decidi resistir, não me deixei levar pelo ambiente de ilusões e idealizações. Guardei a própria personalidade...”.

* A íntegra desse artigo foi publicado em As Forças Encadeadas II, 1996; edição da autora; Dionysa Brandão.


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